"Perpetua-se um nevoeiro que me tolda a inteligência.

Trago nas mãos dentro do bolso das minhas coxas, a imagem embrulhada de ti; com um sorriso afunilado lá longe humedece-me os lábios de cereja feitos de beijos. Os passos pisados de uma calçada agastada pelas pressas ficam indiferentes ao que trago enrolado nos dedos, como se fosses tu a brincar com o meu cabelo - ainda sinto o calor amor das tuas mãos.

As pernas novelo desembaraçam-se lânguidas na almofada do sono e o sol nasce devagar perante a minha contemplação das tuas nádegas, porém, o dia despe-me a epifania onírica e saio de casa com os dedos inchados do sonho.
Como um peixe na praia, sufoco lentamente com os dedos na boca - a minha petite mort; e as pedras agastadas continuam indiferentes ao que trago nos bolsos.
Esta dicotomia aparentemente paradoxal de uma cegueira que visto de lençol branco lavado antes de me deitar serve-me de colo ao embalo do sono que anseio e odeio. Descobri esta vergonha da singularidade que pensei nunca existir no bolso das minhas coxas - uma parede de taipa branca, sem janelas para o mar.
E sufoco lentamente com os dedos na boca."

 "Bica curta"

Texto de uma amiga que conheço de longa data.Filha de uma grande amiga que penso que a conheço desde sempre.Existem factos,personagens,lugares,que pertencem ao nosso imaginário,de vez em quando eles surgem na nossa memória,no lugar da mente onde o surreal nos dá por vezes uma ajuda,uma lufada de ar fresco,para suportarmos o que temos de enfrentar na realidade.E existe também o contrário,algo que fica ,como facto real na memória,mas como pertence a um passado um pouco distante ,quando nos lembramos ou nos fazem lembrar,transforma-se num surreal gostoso.saudosista,de tempos que gostámos de viver e com as pessoas que tivémos a honra de conviver.Desculpa (Bica curta)..Estas palavras vão para a tua mâe...E para ti ,vai um beijinho e obrigado pelo texto,gostei muito,escreves muito bem...Que Deus te abençoe a ti e aos teus....

António Portela  (tó)